18.4.11

Coisas que se dizem sobre um herói


Hoje morreu o meu herói. Não sei nem como começar esse texto. A princípio o que me passa pela cabeça é que um jacaré não poderia morrer afogado, ou que seria uma ironia um gonzo jornalista que bebe e fuma morrer na água. Mas morreu.

Soube da notícia através de uma mensagem de celular. Estou há mais de 10 mil quilômetros de meu herói e não posso fazer nada.

Sobre o Jacaré, ou o João Carlos, tenho muitas lembranças, como dá pra conferir no blog Santa Saliência. Na época a entrevista rendeu muitos risos e muitas histórias. Até hoje me lembro dele contando causos e tossindo entre uma tragada no charuto e uma piadas. Tudo que eu aprendi até hoje foi ao lado do meu mestre: aprendi a escrever jornalisticamente, compreendi a diagramação (morria de ódio quando ele vinha com a régua medir minhas tentativas), sobretudo aprendi a editar os textos jornalísticos. Jacaré me ensinou a ser gente, a pensar de forma singular.

Tenho algumas lembranças que jamais esquecerei:

a) Todos os dias ele se sentava no banco da frente da FAC e lia seu jornal Zero Hora. Ficava estarrecido com as grandes tragédias. Cada um que chegava, ele chamava e comentava um assunto. No final sempre arrematava: “Isso é loucura total!”;

b) Quando eu trabalhava na agência, tínhamos uma banda imaginária, eu, Angélica Sattler e Karina Koppe. Tiba era nosso “empresário”;

c) Tem a história do tamanco que Jacaré contava. Ainda morando em Porto Alegre ele saiu bravo com uma das mulheres que teve (que lhe deu uma tamancada). Saiu puto, cruzou com um cara na rua e não sei como começaram a discutir. Tiba empurrou o cara para cima de uma carrocinha de cachorro-quente. Quando me contou o fato, disse haver “pão para um lado, molho pra outro”. E no outro dia teve que pagar tudo;

d) Um dia apareceu um gatinho na FAC. Era filhote. Eu e o Tiba escondemos o gato na Agência de Jornalismo para ele “morar lá” até acharmos um dono. O Tiba comprava pastel e dava pro gatinho todos os dias. Até chegar a Gabriela Cunha para adotar o gato;

e) Tiba, assim como eu, era louco por bichos: tinha uma garça (que sumiu e o deixou numa tristeza profunda). A Blue, como ele chamava, era praticamente uma pessoa. Tiba dizia: “Blue, vem com o vô” e lá ia Blue se encontrar com Tiba. Só faltava a ave falar. Na primeira vez que em fui em sua casa tinha pés de milho plantados na frente de casa. Agora há hortas, árvores, enfim. Sua companheira Lurdes tem um capricho que adornou aquele lugar. Tiba e Lurdes passavam seus dias com Buk (o cachorro Bukowski), Bob Dylan (o cachorro tarado) e a Pink (uma linguicinha que tinha a sua irmã Floyd, mas esta morreu). Tiba levava seus “netos” pra lá e pra cá.

f) Seu fusca e sua Kombi. Jacaré amava a Kombi. Saia às ruas bem devagar com o som a mil na Planalto. Disse que olhava pro lado e só lia os lábios dos motoristas nos carros ao lado mandando-o tomar naquele lugar.

g) Jacaré e suas genialidades nos livros Crônicas Faquianas, Pra Ler, no Guia de Labirinto, na Vara, no O Jornal, no Pasquim do Sul e em tantos outros lugares que escreveu.

Tiba foi o maior contador de histórias que já conheci. Uma vez me disse que se quiséssemos ser escritores, ou jornalistas, deveríamos escrever todos os dias. Às vezes penso que não estou mais cumprindo a lição de casa. Hoje gostaria de escrever palavras bonitas ao meu mestre, tão poéticas quanto os textos que ele escrevia naquele computador em sua sala (Tudo que ele precisava estava no desktop do computador. E em um só arquivo ele escrevia todos os textos). Mas hoje não consigo ser poética. Minha taquicardia ainda não passou e não quero acreditar que meu herói se foi.

Neste último mês lancei aqui no Amapá, ao lado de minha colega Cláudia Assis, o livro Caldo Fino, um “filhote” como escreveu Tiburski, do Crônicas Faquianas. Tiba fez a abertura do livro. Há menos de um mês lhe enviei exemplares de meus trabalhos com uma dedicatória mais ou menos assim: “Ao homem que me ensinou boa parte do que eu sei”. Sem dúvida nenhuma foi o meu mestre no jornalismo, na literatura, na curtição da vida e na amizade.

Heróis se perdem todos os dias. Mas nunca me disseram como dói perder um grande amigo. A ferida sangra em um rombo no peito.

Vá em paz, meu mestre, meu amigo. Continuaremos espalhando seus conhecimentos “de encontros e desencontros paradidáticos”.

9.6.10

Atividade da aula de hoje: Linguagem Jornalística

Na aula de hoje, vimos que a linguagem jornalística é um gênero híbrido porque se relaciona com diversos tipos de discursos, textos e linguagens.

Com base no conteúdo da aula de hoje, comente aqui no blog: qual a diferença entre a reportagem "Uma copa com outra cara" na edição impressa da Revista Isto É e a cobertura da copa do mundo no site da revista: www.revistaistoe.com.br. Na sua opinião, há mudanças na linguagem jornalística? De que maneira se manifestam os três níveis da linguagem jornalística em dois tipos de "jornalismo escrito" compostos por mídias diferentes?? Opine aqui no nosso fórum! Na próxima aula aprofundaremos a discussão!

A linguagem jornalística na edição impressa:




A linguagem jornalística na edição online:




Depois de comentar no blog, siga a professora no twitter para aprofundar a discussão!


A discussão dos níveis da linguagem jornalística no blog e no twitter vale 0,5 ponto. E a sua análise sobre as diferentes coberturas (na mídia impressa e na mídia eletrônica) vale 1,0 ponto. Bom trabalho!

3.4.08

Tempo, tempo, tempo.

Aviso aos navegantes!!

Com a letra da canção A VERDADE SOBRE O TEMPO, o blog SantaSaliência toma uma decisão importante: assim como a banda Los Hermanos, entra em recesso por tempo indeterminado.

Obrigada a todos que perambulam por aqui.

"A VIDA É COMO UM GÁS/ SÓ UM SOPRO, SÓ UM VENTO, NADA MAIS".


A verdade sobre o Tempo (John Ulhoa), de Pato Fu:

Ele pensa que a vida ficou pra trás
Então finge que nem liga que tanto faz
Ou não, ou não, a vida é como um gás
Só um sopro, só um vento, nada mais

E o ar que já lhe passou pelos pulmões
De tão velho já quer ir descansar
Daqui pro futuro falta só um piscar
Que é pro tempo não mais nos enganar

Ele agora vê que o tempo é uma ilusão
E o passado são as linhas em suas mãos
Ou não, ou não, a vida é muito mais
Que os dias, que os deuses, que jornais

E o ar que já lhe passou pelos pulmões
De tão velho já quer ir descansar
Daqui pro futuro falta só um piscar
Que é pro tempo não mais nos enganar

Ou não, ou não, a vida é como um gás
Só um sopro, só um vento, nada mais




12.3.08

Crônica

Hoje, além de ir ao poder, um texto de Guilherme Cruz:


Hoje, eu fui o poder

Hoje é uma quarta-feira, sempre gostei das quartas-feiras, soa melhor do que segunda-feira ou outra feira qualquer. No meu gabinete estou finalmente só, acredito que também sou o único em todo prédio. Pra falar a verdade há meses estou só, espremido pelo antipoder da oposição - estou me distanciando de mim mesmo.

Comecei uma carta relatando tudo o que sinto, tudo que espero, tudo que eu não verei, se algum dia essas premonições virem a acontecer. Chegar a essa decisão não foi fácil, mas cheguei ao topo e sem ter pra onde ir resolvi me atirar dessa longitude. Resolvi parar a bendita carta, tem uns erros de português que preciso rever e procurar as benditas balas, ou projétil como diriam os meus aliados.

Alguém andou mexendo em meu gabinete, será que sou tão previsível que já suspeitaram da minha vontade e sumiram com as balas?

Já olhei por toda a mesa, fui até o armário à esquerda no mesmo pote de onde tirei esse papel e essa caneta falhante azul, e nada. Resolvi olhar no fundo falso da minha foto na parede, e nada também. Joguei tudo o que tinha nas gavetas, revirei toda a sala e nenhuma bala!! Como o que achei foi somente papel e caneta, resolvi escrever pra reorganizar minhas idéias.

Como vocês bem sabem, sou um homem do povo, saí da barranca e controlo hoje uma imensidão ainda carregado pelo povo. Sou um homem, um estadista, um Deus! Passar por tudo e por todos, e assim perder o poder não admitirei, ninguém é homem o suficiente para me tirar daqui – só mesmo eu! (Cadê essas balas?)

Eu choro porque não tem solução, como o país sobreviverá sem mim? Eu que o conduzi aos seus mais belos momentos de democratização. Não conseguirão viver sem O Meu Brasil, e Eu sem o Poder! A pressão nas tribunas me deixa amarrado pela minha faixa presidencial, me figurando com um alvo gigantesco, pois querem tirar o meu direito. Logo eu...(cadê essa maldita bala)... que consegui dar um golpe em mim mesmo, nem Napoleão teve tempo de pensar nessa.

Mas o presente é esse e ponto. Agora só penso no futuro...(e nas balas)... como será o meu futuro? A minha casa na barranca terá o cheiro da minha amada, ou mesmo lá terei que ouvir discursos daquele rapazote boêmio e do outro da fala estranha? Pois já vejo que eles arrumam o seu cantinho eterno no meu jardim da paz. O meu casebre terá assinatura ilustre e todos pisotearam as minhas façanhas como se eu fosse comum a eles. Esse é o meu destino se eu encontrar as balas.

Aqui!! Pronto, agora sim!! Encontrei-as dentro da arma, realmente sou mesmo previsível. Deixa-me voltar à carta, antes de decretar o fim da minha era...Quer saber, eles vão modificar mesmo ela, então deixo um último trabalho pra entrar para a História. Só vou anotar essa daqui que foi boa, eles podem usar depois. O que seria do poder sem mim.

Guilherme Cruz

7.3.08

"Resenha Pessoal"

O “Beatle George” de dentro de cada um

Desde novembro do ano passado, não consigo parar de ouvir “Beatle George” de Júpiter Maçã. Essa é a música que mais me encantou nesses últimos tempos, talvez porque a canção tem o poder de fazer com que a gente se pareça com o personagem da música.

“Beatle George” faz parte de um finíssimo compacto em vinil com apenas mais uma música: “Scotch and Coffee at Regent Street”. As duas elegantes faixas são de autoria do sempre inesperável e inspirável Júpiter Maçã, produzido por ele mesmo e também pelo Thomas Dreher. O compacto é assinado pela Monstro Discos e Nolandman.

Senti vontade de escrever sobre a música não porque entendo de alguma coisa. Pelo contrário: entendo pouco de música, de rock e de letra. Mas entendo do que gosto. Esses dias resolvi “fazer bem a quem me ama”. Botei um tênis e fui caminhar ao redor de uma praça de pessoas felizes, cachorros felizes, árvores felizes e sombra feliz. Fui pensar, para ver se voltava pra casa mais calma dos “realismos sociais” que cutucavam o meu dia. Enquanto caminhava, lá pelas tantas o meu mp3 me trouxe com alegria os primeiros acordes de uma melodia gostosa, que, para mim, serve como ápice da exultação. E à medida em eu deslizava pelas calçadas da praça, sentia-me inebriada pela paisagem e pela letra da música que parecia feita pra mim:

“Eu deveria parar de beber
Porque ha, eu não estou
Fazendo bem a quem me ama

Devia me converter ao induismo
Comida vegetariana, mantras e krishna
Ha, aonde foi parar aquele menino
Que ha, queria cantar como o beatle george
Aleluia, rare krishna,
Krishna, krishna, aleluia

Ha, aonde foi parar aquele menino
Que ha, queria cantar como o beatle george
Aleluia, rare krishna,
Krishna, krishna, rare rare
Rare rama, rare ra
Rama rama, aleluia”.

Enquanto Júpiter cantava eu pensava que cada frase dessa canção já passou pelos meus planos de mudança. Já quis parar de beber, pensei em me converter em algo legal e não muito chato e careta e até hoje luto para virar vegetariana, mas quando vejo uma carne todo o meu esforço vai por terra. E, também, já quis cantar como Beatle George. Me contentaria com Marcelo Camelo, ou Rita Lee, mas sei que nem com cursinho de músicas para chuveiro eu me sairia bem.

Essa música, enquanto letra, me mostra que não adianta querer ser o que não se é; porque senão, depois disso, vem o arrependimento e a decepção.

No meu mp3 “Beatle George” acabou e eu a botei pra tocar de novo. Afundei a praça. Andei, andei, pensei. Pensei em todas as coisas e todas as possibilidades que nos fazem crescer, e (des) acreditar na vida e nos seus detalhes. Assim como as histórias da vida nos fazem ser personagem de um “cordel de amor sem fim”, igual ao teatro da Trupe Sinhá Zózima, a vida nos prega peças que a partir de uma certa idade a gente já pode pensar sobre ela, vangloriá-la, contestá-la ou apenas lamentá-la. Um lamento de nós mesmos, na esperança de mudar.

Caminhei pela praça tentando mudar. Mas, numa certa altura, sentei num banco e acendi um cigarro. Recomecei a ouvir a música no mp3. Têm coisas que não se mudam.

5.3.08

Falando de sexo

Essa é uma brincadeira inventada pelo Guinnes Book e Binha Creide.

Se você tivesse que, obrigatoriamente, fazer um "sexus" com uma dessas pessoas, qual você escolheria?

Derci Gonçalves

ou

Araci Balabanian











Primeira conc
orrente, Derci Gonçalves












Segunda concorrente, Araci Balabanian



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Semana que vem mudam as opções...

3.3.08

Crônica

Eu e o homem das “Comédias da vida privada”

Sábado passado entrevistei meu ídolo: Luis Fernando Verissimo. O autor esteve em Passo Fundo não para escrever nem palestrar (sic!), mas para tocar. Pra quem não sabe, Verissimo enche suas bochechinhas de ar e toca sax como ninguém. Ele fez um show com o seu grupo Jazz 6 no mesmo dia, à noite, no Teatro do Sesc. À tardinha, eu e meu colega da Beterraba Filmes fomos entrevistá-lo para um DVD de música que estamos produzindo. E eis que tudo aconteceu.

Quando chegamos ao hotel em que meu ídolo máximo se hospedaria (porque ele ainda não tinha chegado de Porto Alegre), eu já estava pra lá de Bagdá, vinda de um almoço (almocei 15h30min) com umas duas cervejas na cabeça. Pra mim, duas cervejas na cabeça são um verdadeiro desastre. Pois cheguei e tomei todos os cafés do hotel esperando o “Luis”. Ficamos conversando com outros jornalistas, que também esperavam o cara. Quando ele chegou meu coração gelou:

- Meu Deus, o Luis!

Ele entra. Tímido, como sempre. Camisa azul, calça marrom e sapato marrom sem meia. Cumprimentou um por um. Quando chegou até mim, alguém apresentou:

- Luis Fernando, esta é a jornalista Roberta Scheibe!

E eu que uma vez, ainda estudante, enviei um e-mail a ele - para minha monografia sobre a obra Comédias da vida privada” - chamando-o de “oi Luis”, e ele me respondeu como “prezada Roberta”, lembrei-me de imediato o quanto esse cara, por incrível que pareça, tem uma educação formal. E larguei:

- Tudo bom Verissimo?!

Ele balbuciou qualquer coisa que nem me preocupei em entender.

O autor do “Chivas Regal dos Whiskys” sentou na cadeira do entrevistado. No meio jornalístico Verissimo é conhecido por falar muito pouco, o que significa um problema para nós, jornalistas. No exato momento em que o autor sentou em sua cadeira Taís Rizzotto, que faria a entrevista primeiro, disse:

- Nós vamos bater um papo, vou te perguntar sobre a sua vida, e você pode falar sobre os fatos que quiser...

Eis que ele disse algo como:

- Eu não vou querer.

Isto, senhores, não representa uma grosseria, e sim uma timidez sem tamanho. A Taís só me deu uma olhadinha. Eu pensei: “Ai senhor, na minha vez ele vai estar louco da vida”! Imaginei o quanto seria difícil para o homem dar entrevista com quatro pessoas assistindo. A estas alturas, eu fiquei responsável de ajudar a Taís Rizzotto fazendo sinal, com as mãos, sobre o tempo que se passava na entrevista. Para desespero da jornalista e alívio do cronista, a cada cinco minutos eu levantava os cinco dedos no ar avisando que o tempo passava, e tanto a apresentadora quanto o meu ídolo me olhavam com o rabo dos olhos.

Quando chegou minha vez de entrevistá-lo, enquanto o cinegrafista arrumava a câmera, fui conversar com o escritor. Expliquei como seria o trabalho e que eu teria apenas três perguntas para lhe fazer, especificamente sobre um novo cantor de MPB. Ele disse que sim. Eu disse-lhe quais seriam as perguntas:

- Estas são as perguntas, mas na hora da gravação eu lhe pergunto e você responde uma por uma – expliquei. Ele fez um sinal de “sim” bem querido.

Na hora da gravação ele respondeu as três perguntas juntas em três frases. Eu refiz as perguntas e formulei algumas novas, na esperança de que a timidez dele o abandonasse um pouco e o deixasse formular falas tão boas quanto as frases escritas. Mas isso é um detalhe que não tem remédio, ele mesmo já escreveu que a pessoa que escreve parece outra da que fala.

Quando enfim terminei as perguntas, ele soltou um suspiro e disse:

- Pronto?

- Pronto, Verissimo!

Prontamente seu microfone de lapela foi retirado, ele cumprimentou singelamente a todos e saiu para descansar. Nós ficamos fofoqueando sobre a sua timidez e eu falei umas mil vezes (incluindo ida e volta da entrevista, dentro do carro) que o cara é meu ídolo. O bom, pelo menos, é que me fiz de difícil na frente dele: O meu “Tudo bom Verissimo?!” escondia, na verdade um “Eu te amo!!! Você é a luz de minha existência! O cronista que mais fez parte de minha vida”! Mas consegui disfarçar legal. E passei a entrevista inteira olhando da cara para os sapatos sem meia de meu ídolo.